domingo, 11 de março de 2012

O SEGREDO DA MONTANHA

Depois de ler extasiado o magnifico texto do meu companheiro de caminhadas Luís Correia,
descrito numa fluidez ortográfica que em tudo se compara aos grandes escritores
portugueses, cabe-me aqui fazer alusão a um momento que me pareceu marcante
nesta viagem envolvente de paisagens soberbas, deslumbrantes e retemperadoras.
Após percorrermos grande parte do percurso e chegados ao cimo da montanha, onde o Carlos já estaria à nossa espera (apanha o freio nos dentes e depois é isto) eu e o Luís abrandamos a marcha porque o Carlinhos, numa atitude de sensatez, gesticulava para que nos aproximássemos de mansinho. Pé ante pé um pouco sem
perceber o que se passava parámos e foi o Carlos que quebrou o silêncio em tom peremptório dizendo “ora calem-se…”. Assim à partida o que nos apeteceu foi dizer-lhe “vai lá calar o ….” mas anuímos e num consentimento enternecedor ficámos todos os três num silêncio colectivo de espanto e numa total envolvência de admiração e respeito.
Rendidos pelo silêncio abismal daquela montanha, cortado aqui e além pelo chilrear de alguma ave, ficámos os três parados no tempo numa quietude mágica de subserviência pela natureza. Foi neste momento que me lembrei daquela máxima chamada força da natureza e pensei “como foi possível que a montanha conseguisse parar três marmanjos que a bem dizer só pensam em comer, beber e outras coisas que não digo a bem do bom nome literário, e os calasse por breves instantes como que numa atitude enternecedora, saboreando aquele momento e desfrutando daquele silêncio e
daquela paz quase em jeito terapêutico para retemperar forças e prosseguir a viagem”.
Que força teve aquele lugar para nos incutir a ideia de que a palavra pode ser ouvida e pronunciada apenas num silêncio acolhedor e místico.
Até agora fiquei sem saber qual é o segredo que tem aquela montanha para numa força imediata nos esvaziar a mente, controlando as nossas emoções e para nos extasiar por alguns instantes tornando-nos frágeis, submissos… enfim comuns mortais.

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