domingo, 17 de maio de 2015

13 DE MAIO DE 2015
08:30H




















A convocação foi emitida e a resposta não se fez esperar; exígua no quórum possível, mas entusiástica e exuberante como sempre, ao ponto de suscitar algum contorcionismo de agendas profissionais e pessoais de um ou outro elemento, para estar presente. Éramos poucos mas “bons”!
Para esta missão, o Pelotão de Reconhecimento do “Por Serras e Vales” contou com as presenças veementes das recrutas Silvia Leão e Lena Saraiva que, assinale-se, têm vindo a cumprir o tirocínio de forma empenhada e notável, para além da presença tutelar e vetusta de dois dos elementos fundadores, nas pessoas do José Veiga e do autor destas humildes linhas. Infelismente e pela primeira vez, o Nelson Martins, outro dos membros fundadores e sempre efusiva e calorosamente presente nestas andanças, não nos pode obsequiar com a sua sempre divertida e apreciada companhia.
Esperamos por ti, na próxima, Companheiro!!!
De acordo com o plano previamente delineado e desta vez preferida, por mera questão logística, a recolha individual, ao acantonamento habitual, zarpámos em direcção à pequena e acolhedora aldeia de Benfeita, no concelho de Arganil, alpendurada, nos seus 450 metros de altitude, espraiada numa encosta da Serra do Açor, à beira do rio Alva e aninhada num pequeno vale ombreado por íngremes cumeadas verdejantes. A Benfeita é uma das “aldeias brancas” da Rede das Aldeias de Xisto e o seu casario branco e as suas ruelas características formam um conjunto pitoresco e harmonioso, enquadrado pela frescura das ribeiras da Carcavão e da Mata, que ali confluem.
Aldeia singela e humilde cumpre, no entanto com uma tradição original. Muito provavelmente será a única aldeia no Mundo que recorda, todos os anos, a 7 de Maio, o fim da II Guerra Mundial. A efeméride é assinalada com 1620 badaladas do sino da Torre da Paz representando cada uma, um dia de guerra. O denominado “Sino da Paz”, com cerca de 6 Kg foi uma encomenda do Dr. Mário Mathias, no ano de 1945, à firma “Manoel F. Couzinha”, de Almada e foi colocado na Torre da Paz, em Abril de 1945, com a seguinte inscrição gravada: "ESTE SINO TOCOU PELA PRIMEIRA VEZ A ANUNCIAR O FIM DA GUERRA DA EUROPA EM 1945".
Em 1945, a rendição do exército nazi e o consequente fim da guerra era aguradado com impaciência e na aldeia de Benfeita, um funcionário duma empresa inglesa, casado com uma habitante da aldeia, assim que soube da assinatura do armistício, telefonou a dar a boa nova, a qual, como é habito, foi anunciada com as badaladas que ecoaram no silêncio secular daqueles montes e vales rejubilando com a Paz que chegara.
O maciço imponente da Serra do Açor constitui um maciço montanhoso imponente, onde o xisto domina, em dobras e fracturas que originam um relevo característico e agreste, que a sulca com vales abruptos e acidentes geológicos íngremes onde, por vezes, se encaixam linhas de água, como o exemplar de rara beleza, quer tivémos o previlégio de apreciar, das espectaculares quedas de água da “Fraga da Pena”.
O trilho do “Caminho do Xisto da Benfeita” é um percurso que se cumpre de forma circular, numa extensão de 10,5 Km, com início no Largo do Ameal da Benfeita e que suavemente nos começa a transportar, ao longo do vale da ribeira do Carcavão, através de veredas rurais estreitas e sinuosas, socalcos e levadas, meticulosamente construídos ao longo dos tempos para o apoio à actividade agrícola dominante e uma fantástica sequência de pequenas quedas de água e açudes que surgem, quase que por encantamento, por entre o sombrio e fresco arvoredo envolvente, da Mata da Margaraça, os quais proviam os vários moínhos e azenhas seculares, a maior parte deles hoje abandonados.
Tal como facilmente se infere do gráfico de altimetria, os primeiros 5 a 6 Km do trilho são sempre a subir, exigindo boa condição cardiovascular e uma especial atenção aos declives pronunciados, com muitos resíduos florestais e outro material solto, onde é fácil escorregar. Sempre a subir, atravessando ribeiros a vau, lages de xisto, ou exíguas pontes de madeira, escalando declives abruptos, por degraus desusadamente altos, construídos com troncos em travejamento, trepando muros de xisto com pedras mais salientes, a servir de degraus, ou aproveitando as cordas estrategicamente colocadas em zonas mais íngrmes e escorregadias do trilho, à laia de corrimãos, até chegarmos ao cimo, onde a vista que se alcança sobre o vale é simplesmente deslumbrante e nos faz esquecer o esforço até aqui despendido.
Depois o trilho continua, de forma apenas um pouco menos acidentada mas sempre com um grau de exigência física elevado, passando pelos pequenos povoados de Sardal e Pardieiros até nos trazer de volta à Benfeita. Ao longo do percurso são inúmeros os recantos edílicos, recatados e apetrechados com mesas e bancos rústicos de madeira.
A fauna e flora da mata da Margaraça, que o trilho atravessa, tem uma variedade riquíssima e é principalmente constituída por carvalhos, castanheiros e medronheiros e em menor escala por folhados e azereiros. O javali, a gineta, a raposa, a coruja do mato, o gavião, o açor, a salamandra de cauda comprida e o lagarto de água são frequentes, embora, muitos deles, como sabemos, esquivos ao contacto com humanos, pelo que apenas tivemos oportunidade de ver e fotografar uma ou outra ave de rapina, lagartos e cobras, que aparentemente despertavam , ainda algo sonolentos e aturdidos, do seu período de hibernação e aproveitavam os quentes raios de sol primaveris.
Dado o de dificuldade e a exigência física deste trilho, o Pelotão de Reconhecimento do “Por Serras e Vales” pretende levar a efeito a Caminhada com o grupo alargado, brevemente, idealmente ainda antes do Verão, por isso mantenham-se atentos às notícias!...


1 comentário:

Ana Simões disse...

Vejo que o blog está "abandonado " deambulei por aqui e gostei muito do que vi. É tão bom caminhar entre a natureza, descobrir cada recanto e regista-lo na mente e na câmara fotográfica. Parabéns pelo blog.