quarta-feira, 25 de abril de 2012

PELAS TERRAS DE GRANITO

O dia amanheceu sombrio e preguiçoso, debaixo de um tecto de nuvens baixas e plúmbeas. Era feriado e a cidade ainda dormia. Chovia fortemente mas, à hora combinada, todos foram pontuais e partimos rumo à Serra do Caramulo, para efectuar o reconhecimento do "PR4 - Trilho das Terras de Granito".
O propósito da exploração e reconhecimento de mais um trilho de montanha, que irmanou o pequeno grupo, suficientemente homogéneo, ávido e perseverante era também a assunção subconsciente da construção de um imaginário colectivo, que emerge dos individuais, numa ritualização de superação, tornando o desafio árduo em prazer, apesar da intempérie que sobre nós se abateu, implacavelmente, ao longo de todo o percurso, com uma chuva copiosamente persistente e fria, que nos açoitava o rosto e as mãos desnudas, numa dureza afiada e invernal.
Mesmo em regime exploratório, que exige a identificação demorada da pista correcta e do terreno se apresentar completamente alagado nos baixios ou com as fragas graníticas a escorrer córregos abundantes, o trilho foi cumprido, sem pressas, em quase metade do tempo máximo anunciado no folheto informativo disponibilizado pelo Município de Águeda.
Apesar do vestuário apropriado com que todos nos havíamos munido, depressa nos começámos a sentir ensopados, da cabeça aos pés e pouco depois do início, já quase ninguém se preocupava em saltar as poças ou desviar da água que nos caía teimosamente em cima e nos inundava abundantemente o caminho. Não obstante esta contrariedade, ninguém emudeceu e facilmente mantivemos a boa disposição característica, com conversas e comentários jucundos e brejeiros, que imediatamente faziam explodir gargalhadas sonoras, de genuína jovialidade e gozo.
Perante estas condições meteorológicas adversas, ainda que carregasse o equipamento fotográfico, devidamente acondicionado na mochila, não me atrevi a fotografar e lamentavelmente, desta vez, não trouxe imagens do percurso que é, de resto, belíssimo. Fica, no entanto, a esperança de que, no próximo dia 5 de Maio, a meteorologia se mostre mais colaborante e nos brinde com um belo dia de Sol e nos permita fruir com deleite, da maravilhosa e deslumbrante beleza deste percurso, que se desenrola maioritariamente por entre matas de carvalhos e sobreiros frondosos e o granito constantemente a aflorar, ora nú na sua beleza singela, ora atapetado por espessos mantos verdes de musgo viçoso.
No final, com as roupas encharcadas que pingavam e com os pés a vascolejar dentro das botas cheias de água chegámos ao restaurante “A Escola”, onde a Dª. Zulmira e o Sr. António nos receberam com garbosa simpatia e hospitalidade, solícitos em nos disponibilizar banho quente e toalhas, se acaso quiséssemos e a atiçar a lareira, que ardia mansamente, com lenha em abundância. Recusámos agradecidos o banho e  trocámos de roupa, na casa de banho.
Já junto à lareira a tentar secar as calças, a hospitalidade generosa do amável casal gerente voltou a pôr-nos à-vontade, insistindo para que descalçássemos as botas e as deixássemos secar, ao que anuímos sem não evitarmos um riso meio envergonhado mas reconfortado por nos estar a ser permitido estar de pés nús sobre a madeira vetusta do soalho, como se estivéssemos em casa.
A sala de jantar é muito agradável e acolhedora, exibindo como elementos decorativos, muitos dos objectos escolares, então em uso e que rapidamente nos transportaram para os já longínquos anos em que, então meninos, frequentámos escolas como esta.
Em pouco tempo tínhamos as botas, as meias, os casacos e toda a parafernália de telemóveis e câmeras fotográficas e de vídeo espalhadas, a secar, em redor da lareira enquanto, sempre com um sorriso, a Dª. Zulmira ia aparelhando a mesa com as iguarias das entradas e o Sr. António nos servia uma jeropiga “para que aquecêssemos”. O repasto continuou, delicioso com o cabrito e a vitela arouquesa em forno de lenha, o pão caseiro e as sobremesas pecaminosas, a fazerem brilhar uma cozinha caseira e esmerada, que não nos deixava ter pressa de regressar a casa.
No final foram as despedidas agradecidas e a vontade firme de voltar brevemente…


1 comentário:

ED disse...

Ótima descrição a atiçar o desejo para no próximo 5 de Maio estarmos a viver a experiência que hoje vos foi permitido apreciar.