quarta-feira, 18 de março de 2009

22 de Agosto de 2009



Caros amigos, antes de me referir ao retomar das nossas caminhadas, como o passeio do passado dia 07 de Março, deixem-me contar-lhes mais este que efectuei ainda no ano passado, mas já depois da nossa última saída:








Dia 22 de Agosto de 2008.O dia continuava límpido e o Sol ainda brilhava alegremente, quando cheguei à Praia da Ursa, escondida entre as falésias apertadas e deslumbrantes, nas imediações do Cabo da Roca, o ponto mais ocidental do continente Europeu, ou como escreveu Luís de Camões, o local “Donde a Terra se acaba e o mar começa” (in Os Lusíadas, Canto VIII).Era um destino que há muito queria explorar. Após uma viagem descontraída cheguei cerca do meio da tarde, o que me deu tempo para estacionar e fazer um reconhecimento rápido dos acessos, de que apenas tinha umas vagas indicações, a partir de leituras previamente efectuadas. Não estava ninguém no local, mas havia um Corsa “comercial” velho e um Defender estacionados, de modo que não estava sozinho.Como havia aparentemente duas hipóteses para fazer a descida decidi-me, primeiro, pela da direita, que me pareceu mais óbvia. Infelizmente só quase já muito perto do final da falésia e depois de cerca de 40 minutos de progressão exigente, é que constatei que por ali não conseguiria chegar à praia; mas o que se avistava era já um prémio antecipado.Não havia mais nada a fazer que voltar para trás e subir aquele trilho estreito e acidentado, por entre rochas aguçadas e vegetação rasteira mas densa, em passo acelerado, para não perder a maravilhosa luz do Sol, que já se derramava em tonalidades quentes, sobre aquelas paredes quase verticais.Cheguei de novo ao local de partida, ofegante e a transpirar. Ao fim de pouco tempo encontrei o outro caminho alternativo. Inicialmente parecia não se dirigir para a praia – daí não o ter preferido logo de início. Com vários desvios e uma miríade de entroncamentos, aos poucos, lá me fui orientando e se do outro lado era a vegetação e os grandes penedos aguçados que dificultavam a progressão, sendo necessário escolher bem as brechas por onde passar, deste lado a vegetação era mais rasteira e escassa e o caminho estava mais erodido, com muito material solto e rolante, para além de ter inclinações por vezes assustadoras.


Ao fim de talvez um pouco mais de 40 minutos, vários escorregões, alguns sustos e umas quantas pequenas quedas sem consequências, chega-se a uma zona menos inclinada, com mais calhaus rolados e a praia fica ali, já à vista, deslumbrante. É uma praia pequena, de areia fina, guardada pelos dois imponentes penedos da Ursa, que em tempos geológicos recuados, se devem ter separado da costa. A maré-cheia deve inundar quase todo aquele areal que fica aninhado entre as paredes quase verticais da rocha e que o Sol, àquela hora, iluminava de ocre e vermelhos vários, num espectáculo colossal e de cromatismo indescritível.Havia, afinal gente na praia. Um grupo de nudistas que fruía o fim da tarde, como répteis preguiçosos, um casal de namorados alheios a tudo o que os rodeava e uma rapariga negra, solitária, cujo corpo desnudo era ainda mais evidente no castanho aveludado da sua pele de chocolate.Dediquei-me a explorar o local de lés-a-lés e fui avaliando enquadramentos para daí a pouco começar a sessão fotográfica.Neste entretanto, desceu mais um grupo pequeno, que veio para fazer escalada nas paredes rochosas quase verticais que, de cima da falésia, escondem a praia. Treparam com as cordas e as peças metálicas que foram cravando na rocha, quase até ao topo e voltaram a descer, recuperando as peças metálicas que tinham utilizado.E pronto, eis que o Sol começa a deitar-se no oceano e era chegada a hora de colher rapidamente as últimas imagens. Seriam quase 20:00H quando comecei a subida… e ainda lá ficou o casal de namorados.
O trilho foi, curiosamente, mais fácil e até me pareceu mais rápido de fazer a subir que a descer. Quase a chegar ao local onde tinha deixado o jeep cruzei-me com mais um casal de namorados, que descia e de certeza que não iam fazer fotografias!!!...Ainda fui ao farol que estava em obras de restauro e mais à frente, ao Cabo da Roca onde encontrei um grupo de turista orientais, muito divertidos com o vento e o frio que já se faziam sentir.Iniciei o regresso, mas ao passar na Azóia, não resisti e jantei num restaurantezinho humilde, com ar de ter peixe fresco, pescado pelo proprietário, ainda naquela tarde.

1 comentário:

krónica disse...

Também eu estive, já lá vai um tempo, nesta praia deslumbrante. Aliás, aconselho toda a gente que possa, tenha pernas e alguma coragem a descer à Praia da Ursa. É, realmente, um obstáculo enorme aquela descida bem como a subida (sim, porque não é suposto ficar-se por lá!), mas quando se chega ao areal, a vontade que se tem é sentar na areia e ficar durante um bom bocado a admirar aquela paisagem de cortar a respiração.

Quando lá estive tomei um banho naquelas águas revoltas...muito bom!

Se puder e não tiver medo, vá sozinho(a)...é daqueles sítios ideais para se meditar, para se pensar na vida...talvez ali, sozinho(a), lhe venha a inspiração, lhe venha a coragem para fazer aquilo que há tanto pondera...

Se estiver apaixonado(a)...aproveite e vá namorar num sítio quase deserto, com uma vista que, dependendo do estado de espírito, até faz cair uma ou outra lágrima. Comigo aconteceu...

Uma vez que também tive, em tempos, oportunidade de conhecer este lugar verdadeiramente paradisíaco, não podia deixar umas palavras acerca de um sítio apesar da enorme dificuldade física em se lá chegar, vale muito a pena visitar.

Um beijinho

Krónica